sexta-feira, 31 de julho de 2015

Diário #3 - Depois

Sabe, ontem eu fui ao Centro.
Parte de mim estava com muito medo. Ir ao médico... sozinho... A gente cresce e é apresentado a um novo mundo totalmente diferente. E a gente precisa se acostumar rápido com ele. E, pra ser sincero, eu mal tentei.
A outra parte estava muito animada. Eu me deitei cedo e dormi tarde. Meu coração batia muito depressa e uma música em particular tocava em minha cabeça. Eu não conseguia dormir, não conseguia esconder a felicidade, o entusiasmo, a excitação, e, é claro, o sorriso insano em meu rosto. Eu fiz planos: passar por aquela rua, aquela onde as pessoas que eu amo tanto moravam; passar por aquela praça, a praça mais... qual é a palavra?; ouvir a música que tocou praticamente a noite inteira em minha cabeça; sorrir, relembrar, admirar, me impressionar, chorar...
No começo, quando entrei naquela rua nostálgica, tudo parecia o mesmo. O sol, o calor. Mas não as casas; substituídas por construções feias e luxuosas. Eu passei pelo lugar que um dia foi a loja onde eu comprei aquela revista do Harry Potter; passei pelo lugar que um dia foi a locadora onde eu alugava constantemente o filme dos Ursinhos Carinhosos; passei ao lado do que restou do muro que um dia pertenceu à casa da minha avó; a casa dos meus primos. Todos os lugares... demolidos ou abandonados. E, além disso, a música errada tocava em minha cabeça.
A passagem pela praça foi rápida, despercebida, ofuscada. Acho que porque eu estava desanimado com a experiência anterior.
Eu tinha um texto completamente diferente em mente. Mas, depois de tudo o que aconteceu, ele se transformou neste texto.
Mas ainda me resta uma coisa. Uma única coisa. A única que nunca poderão tirar de mim. Nunca! Minhas lembranças.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Elegia

Eu tive um sonho
Em que o mundo inteiro chorava
Então eu caí da cama
E percebi que o sonho era real

Eu olhei para o céu
Para desejar a uma estrela que o mundo inteiro sorrisse
Então a chuva caiu
E eu percebi que até o céu estava chorando

Eu corri para dentro de casa
Para procurar por minha mãe e por meu pai
Mas eu não os encontrei
Pois eu estava velho e sozinho

Até que eu finalmente morri
O que, por infortúnio, não fez com que o mundo inteiro vivesse
Então esta é minha elegia
Para todos os bons sonhos que nunca se tornarão realidade

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Não Sou Camões

Se eu tiver coragem pra dizer “Meio que eu gosto de você”
Eu fico à mercê?
E se eu disser que o perfume que você usa, meu primo usa também?
Você vai me tratar com desdém, como um ninguém?

Ei, vai pegar mal se eu contar que eu não me canso de te stalkear?
Você vai me bloquear, ou deletar?
E se eu falar que eu decorei seu nome e que sua letra é um horror?
Você vai ficar sem cor, guardar rancor?

Ei, se eu falar “Foi por amor que eu te escrevi mais de duas canções”
Você diz que não sou Camões?
E se eu falar de uma só vez que eu sei a senha do seu celular?
Você vai me ignorar, quando eu passar?

Ei, se eu contar como é que eu me senti ao te ver com Julie outra vez
Você acha isso estupidez?
E se eu mostrar os textos que eu te escrevo em meu caderno?
Você diz que o nosso eterno é este inverno?

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Stalker

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Como um stalker muito louco que persegue a sua presa até num manicômio ir morar
Só eu, você, e a minha insanidade, e uma camisa de força em mim

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Pressupus que Julie te esperava em algum lugar qualquer, fingindo ser sua mulher
Só eu, você, e um monte de pessoas entre eu, você, nós

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Então, quando olho pela janela, vejo a quase cadela, sua querida donzela
Só eu, você, e o meu ciúme bobo que já me rendeu outra canção

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Imaginei que você ia ao Bloco M, onde o Wi-Fi é melhor, e que com outrem ia falar
Só eu, você, e o seu WhatsApp, e alguém que não sou eu

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Pensei em te sujar com algum café, me oferecer para limpar, só pro seu corpo eu espiar
Só eu, você e um copo de café vazio, e seu tronco nu

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Porque eu não me contento com esse seu Facebook que eu já estou cansando de visitar
Só eu, você, e uma solicitação de amizade aceita, meu Deus

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Considerei escutar sua conversa com seu grupo de amigos e seus nomes decorar
Só eu, você, e o perfil dos seus amigos, procurando por mais você

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
E eu nem me importo com os erros bobos de ortografia, melodia é o melhor
Só eu, você, e a ordem dos fatores não altera o produto final

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Você nem percebeu que eu te espiava atrás da lata de lixo onde você jogou um papel de bala
Que eu peguei, guardei e colei em meu caderno onde eu escrevo poemas de amor

Quando você saiu pela porta, eu pensei em te seguir só pra saber o que você ia aprontar
Em vez disso, me sentei com A Banana e sobre super-heróis falamos até a viagem acabar